O cartaz
oficial português para assinalar o Dia Internacional do Livro Infantil (2 de
abril) com a ilustração a cargo da premiada Yara Kono, ilustradora residente da Editora Planeta Tangerina.
A mensagem deste ano é do escritor mexicano Francisco Hinojosa:
Era uma vez um conto que contava o mundo inteiro
Era uma vez um conto que contava o mundo inteiro. Na verdade não
era só um, mas muitos os contos que enchiam o mundo com as suas histórias de
meninas desobedientes e lobos sedutores, de sapatinhos de cristal e príncipes
apaixonados, de gatos astutos e soldadinhos de chumbo, de gigantes bonacheirões
e fábricas de chocolate. Encheram o mundo de palavras, de inteligência, de
imagens, de personagens extraordinárias. Permitiram risos, encantos e
convívios. Carregaram-no de significado. E desde então os contos continuam a
multiplicar-se para nos dizerem mil e uma vezes: “Era uma vez um conto que
contava o mundo inteiro…”
Quando lemos, contamos ou ouvimos contos, cultivamos a
imaginação, como se fosse necessário dar-lhe treino para a mantermos em forma.
Um dia, sem que o saibamos certamente, uma dessas histórias entrará na nossa
vida para arranjar soluções originais para os obstáculos que se nos coloquem no
caminho.
Quando lemos, contamos ou ouvimos contos em voz alta, estamos a
repetir um ritual muito antigo que cumpriu um papel fundamental na história da
civilização: construir uma comunidade. À volta dos contos reuniram-se as
culturas, as épocas e as gerações, para nos dizerem que japoneses, alemães e
mexicanos são um só; como um só são os que viveram no século XVII e nós mesmos,
que lemos um conto na Internet; e os avós, os pais e os filhos. Os contos
chegam iguais aos seres humanos, apesar das nossas grandes diferenças, porque
no fundo todos somos os seus protagonistas.
Ao contrário dos organismos vivos, que nascem, reproduzem-se e
morrem, os contos são fecundos e imortais, em especial os da tradição oral, que
se adequam às circunstâncias e ao contexto do momento em que são contados ou
rescritos. E são contos que nos tornam seus autores quando os recontamos ou ouvimos.
E também era uma vez um país cheio de mitos, contos e lendas que
viajaram durante séculos, de boca em boca, para mostrar a sua ideia de criação,
para narrar a sua história, para oferecer a sua riqueza cultural, para aguçar a
curiosidade e levar sorrisos aos lábios. Era igualmente um país onde poucos
habitantes tinham acesso aos livros. Mas isso é uma história que já começou a
mudar. Hoje os contos estão a chegar cada vez mais aos lugares distantes do meu
país, o México. E, ao encontrarem os seus leitores, estão a cumprir o seu papel
de criar comunidades, de criar famílias e de criar indivíduos com maior
possibilidade de serem felizes.
Tradução de Maria Carlos Loureiro
(Responsável da DGLB)